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Trabalhei até ao dia anterior da parte da manhã. À tarde já não fui porque o Cajó, o nosso cãozinho, companheiro durante 17 anos, faleceu e o meu estado de tristeza e de gravidez avançada, 39 semanas, com 18 quilos a mais e retenção de líquidos que me faziam parecer um balão, não o permitiram mais. A tarde foi passada calmamente em casa dos meus pais, sem sinais de parto eminente. Um passeiozito a pé, pela praia, o “enterro” do Cajó e depois do jantar fui para casa. De manhã acordei com umas estranhas dores lombares, tipo contrações que vinham espaçadamente, mas na zona dos rins e com intervalos curtos apesar de serem leves. Tudo diferente do que me tinham “ensinado” acerca das contracções. Respirei fundo, tomei um banho, o pequeno almoço e fui novamente para casa dos meus pais, a ver no que ia dar. As dores começaram a ser mais fortes e praticamente contínuas. Entretanto comecei com perdas de sangue. Resolvi ir ao hospital. Isto já por volta das 11 e qualquer coisa. Quando lá cheguei, depois de ser examinada, disseram-me que estava em início de trabalho de parto, tinha 2 cm de dilatação e febre!
Lá foram feitos os preparativos todos, e monitorizada e medicada para a febre lá fiquei a aguardar que a dilatação se desse. Depois do almoço a minha querida irmã, foi fazer-me companhia e lá esteve sempre comigo. Durante todo o dia, tive febre muito alta, que cedia um pouco com a medicação, as dores sempre lombares, fortes, até me ser administrada a epidural. Com o efeito da epidural e em períodos sem febre, estava bem.
A minha irmã questionou toda a gente que entrou naquela sala de partos, sobre o porquê da febre, mas as respostas foram sempre levianas sem darem importância à pergunta. O meu companheiro, chegou mais tarde, depois de ter deixado todo o seu trabalho organizado...foi ter comigo e depois esperou lá fora, continuando a minha irmã sempre comigo. Fizeram-me a análises que indicaram infecção e então foi-me também administrado antibiótico, que parece ter sido ineficaz. O dia passou assim, entre medicamentos, febre, epidural, até que por volta das 21:15 o obstetra do novo turno chegou e depois de me observar, indicou-me de urgência para a cesariana. Disseram-me simpleamente que o trabalho de parto n se estava a dar e dada a febre era a opção a tomar.
E pronto...grandes movimentações, reforço da epidural, e lá fui eu para o bloco operatório. Assisti a tudo. Sem me aperceber que as coisas não estavam bem. Tiraram a Maria e não ouvi choro...perguntei porque não chorava...não me respondiam, comecei a ouvir falar em meningite.Uma correria. Passaram por mim com ela, só dei um beijinho de fugida e lá ma levaram.
Fiquei ali a ser tratada, mas estupidamente calma, resultado da medicação.
Quando acabou, fui para a sala de recobro e assim que consegui mexer as pernas, levaram-me para cima.
Não vou nunca esquecer a cara de desalento da minha irmã e do meu companheiro quando subi na maca. A eles já tinham dito, que ela estava muito doente e que as próximas 24 horas seriam decisivas.
Toda a família que esperava em casa o tradicional: já nasceu e está tudo bem, receberam esta notícia.
Eu lá fiquei na sala de recobro e depois para enfermaria sem nada saber.
A noite foi difícil...depois de passar o efeito da epidural e das drogas. As dores eram muitas e a preocupação foi-se apoderando de mim.
Na manhã seguinte fui conhecer a minha menina... Linda e grande...nada tinha a ver com os “ratinhos” das outras incubadoras e no fim tão doentinha que ela estava...imóvel, completamente prostrada.
Os dias que se seguiram, foram da maior tristeza. Ela ainda piorou no dia seguinte, fez convulsões, foi medicada para as convulsões, dormia o tempo todo. Só ao fim do segundo dia descobriram a causa da infecção e aí começaram a administrar o antibiótico correcto.
Por essa altura começaram também a dizer-me para estimular a subida do leite para experimentar a dar. Experimentámos 5 ml ela bebeu. Tinha sucção, sei agora que foi o primeiro bom sinal. Começámos a aumentar a quantidade e ela sempre a querer mais. Contudo só com o biberão porque ao peito, começava a precisar de oxigénio.
Por volta também do 2º dia, foram feitos os primeiros exames. Ecografia transfontanelar que revelou lesões no cérebro da minha menina acabadinha de nascer. Lesões essas que ninguém me sabia dizer o que queriam dizer...
Entre a conversa da plasticidade cerebral e de todos os casos serem diferentes, lá fui arranjando força para superar os momentos de completo desespero.
A Mi foi melhorando. Comendo cada vez melhor, as convulsões não se repetiram, o tónus foi melhorando, saiu da incubadora, mas durante um mês e uma semana lá andámos no hospital.
Muitos dias, em que eu estava mesmo em baixo, era a minha filhota que me animava, quando olhava para mim e eu lia na sua carinha que ia tudo correr bem!
Fazia análises regularmente e apesar da maioria dos níveis estarem normais, havia um valor PCR (protéina c reactiva) que não cedia. Como tal novos exames foram feitos, entre os quais um TAC, que revelou novas zonas de lesadas, extensas, em áreas que não se tinham visto nas ecografias. Mais desespero.
Dado este valor persistente, apesar de alguns médicos serem da opinião de dar alta assim mesmo, a médica que fez a ronda na neonatologia no dia que supostamente seria a alta da maria, não quis arriscar e para além de não lhe dar alta, quis ter certezas e fomos encaminhadas para o Hospital de St Maria.
Lá chegámos. A Mi enjoou na viagem, chegou lá, vomitou e mais vomitou. As regras deste internamento eram diferentes e podíamos permanecer durante toda a noite. Eu desconhecia e “abandonei” a minha princesa na primeira noite de internamento...:( só nos dias seguintes é que me apercebi deste abandono. Sinto-me mal até hoje por isso. Mas estava habituada a deixá-la à meia noite e só voltar no dia a seguir...Mas pronto, a partir desse dia permaneci com a minha filhota todas as noites, durante todo o internamento. O hospital velho...a cantina horrorosa...nada do “calorzinho” que estávamos habituadas e que ainda assim ajudava a disfarçar as preocupações.
Durante esse internamento fez a 1ª consulta de neuropediatria, que eu aguardei tão ansiosa que quase me saltava o coração do peito...
A médica que a observou..um doce...disse: esta menina vai falar, andar e na escolinha, quando for altura disso logo se vê...vamo-nos preocupar com o que está mais próximo. Terá provavelmente uma microcefalia, que ainda n se verifica, mas irá aparecer e apresenta uma hemianópsia esquerda (redução do campo visual).
Fez também em St Maria consulta de dermatologia, pelo facto de apresentar umas irregularidades subcutâneas nas costas e coxas, que apesar de eu já ter questionado os médicos sobre aquilo, ninguém deu importância e esta neurologita achou estranho tal como eu, e querendo averiguar, pediu a uma equipa da neonatologia para observar...concluiram então e depois confirmado com dermatologia, que se tratava de necrose dos tecido adiposo subcutâneo, resultado do sofrimento neonatal. A boa notícia foi que passaria e que poderia isso ser a causa da PCR aumentada.
Com isto, tivémos alta, uma semana depois, sem nada mais concluído, e regressámos ao hospital de origem numa sexta feira, dia 25 de Fevereiro, num mini autocarro de transporte de doentes adultos. Eu com ela no colo a caminho do Algarve. Poderia ter reclamado desta situação...mas sinceramente só queria voltar e rezei muito a pedir que corresse tudo bem e pudesse finalmente levar a minha princesa para casa.
A alta definitiva foi só no dia a seguir de manhã. Ainda permaneceu durante a noite na neonatologia.
E finalmente fomos para casa no dia 26 de fevereiro de 2005
A partir daí...o tempo foi passando, entre dias de desespero outros de alegria e conquistas, consultas e terapias e ontem a minha menina fez 4 aninhos.
Foram 4 anos, que não parecem ter passado rápido, porque a ansiedade que o tempo passe e nos dê respostas é muito grande.
Posso contudo dizer, que as respostas têm sido senão as melhores, muito perto disso, e muitas vezes temo pela minha conduta em relação à sua educação, porque fico tão feliz com algumas das suas atitudes reveladoras de inteligência, que em vez de a por na linha...deleito-me com elas! :)
Lá foram feitos os preparativos todos, e monitorizada e medicada para a febre lá fiquei a aguardar que a dilatação se desse. Depois do almoço a minha querida irmã, foi fazer-me companhia e lá esteve sempre comigo. Durante todo o dia, tive febre muito alta, que cedia um pouco com a medicação, as dores sempre lombares, fortes, até me ser administrada a epidural. Com o efeito da epidural e em períodos sem febre, estava bem.
A minha irmã questionou toda a gente que entrou naquela sala de partos, sobre o porquê da febre, mas as respostas foram sempre levianas sem darem importância à pergunta. O meu companheiro, chegou mais tarde, depois de ter deixado todo o seu trabalho organizado...foi ter comigo e depois esperou lá fora, continuando a minha irmã sempre comigo. Fizeram-me a análises que indicaram infecção e então foi-me também administrado antibiótico, que parece ter sido ineficaz. O dia passou assim, entre medicamentos, febre, epidural, até que por volta das 21:15 o obstetra do novo turno chegou e depois de me observar, indicou-me de urgência para a cesariana. Disseram-me simpleamente que o trabalho de parto n se estava a dar e dada a febre era a opção a tomar.
E pronto...grandes movimentações, reforço da epidural, e lá fui eu para o bloco operatório. Assisti a tudo. Sem me aperceber que as coisas não estavam bem. Tiraram a Maria e não ouvi choro...perguntei porque não chorava...não me respondiam, comecei a ouvir falar em meningite.Uma correria. Passaram por mim com ela, só dei um beijinho de fugida e lá ma levaram.
Fiquei ali a ser tratada, mas estupidamente calma, resultado da medicação.
Quando acabou, fui para a sala de recobro e assim que consegui mexer as pernas, levaram-me para cima.
Não vou nunca esquecer a cara de desalento da minha irmã e do meu companheiro quando subi na maca. A eles já tinham dito, que ela estava muito doente e que as próximas 24 horas seriam decisivas.
Toda a família que esperava em casa o tradicional: já nasceu e está tudo bem, receberam esta notícia.
Eu lá fiquei na sala de recobro e depois para enfermaria sem nada saber.
A noite foi difícil...depois de passar o efeito da epidural e das drogas. As dores eram muitas e a preocupação foi-se apoderando de mim.
Na manhã seguinte fui conhecer a minha menina... Linda e grande...nada tinha a ver com os “ratinhos” das outras incubadoras e no fim tão doentinha que ela estava...imóvel, completamente prostrada.
Os dias que se seguiram, foram da maior tristeza. Ela ainda piorou no dia seguinte, fez convulsões, foi medicada para as convulsões, dormia o tempo todo. Só ao fim do segundo dia descobriram a causa da infecção e aí começaram a administrar o antibiótico correcto.
Por essa altura começaram também a dizer-me para estimular a subida do leite para experimentar a dar. Experimentámos 5 ml ela bebeu. Tinha sucção, sei agora que foi o primeiro bom sinal. Começámos a aumentar a quantidade e ela sempre a querer mais. Contudo só com o biberão porque ao peito, começava a precisar de oxigénio.
Por volta também do 2º dia, foram feitos os primeiros exames. Ecografia transfontanelar que revelou lesões no cérebro da minha menina acabadinha de nascer. Lesões essas que ninguém me sabia dizer o que queriam dizer...
Entre a conversa da plasticidade cerebral e de todos os casos serem diferentes, lá fui arranjando força para superar os momentos de completo desespero.
A Mi foi melhorando. Comendo cada vez melhor, as convulsões não se repetiram, o tónus foi melhorando, saiu da incubadora, mas durante um mês e uma semana lá andámos no hospital.
Muitos dias, em que eu estava mesmo em baixo, era a minha filhota que me animava, quando olhava para mim e eu lia na sua carinha que ia tudo correr bem!
Fazia análises regularmente e apesar da maioria dos níveis estarem normais, havia um valor PCR (protéina c reactiva) que não cedia. Como tal novos exames foram feitos, entre os quais um TAC, que revelou novas zonas de lesadas, extensas, em áreas que não se tinham visto nas ecografias. Mais desespero.
Dado este valor persistente, apesar de alguns médicos serem da opinião de dar alta assim mesmo, a médica que fez a ronda na neonatologia no dia que supostamente seria a alta da maria, não quis arriscar e para além de não lhe dar alta, quis ter certezas e fomos encaminhadas para o Hospital de St Maria.
Lá chegámos. A Mi enjoou na viagem, chegou lá, vomitou e mais vomitou. As regras deste internamento eram diferentes e podíamos permanecer durante toda a noite. Eu desconhecia e “abandonei” a minha princesa na primeira noite de internamento...:( só nos dias seguintes é que me apercebi deste abandono. Sinto-me mal até hoje por isso. Mas estava habituada a deixá-la à meia noite e só voltar no dia a seguir...Mas pronto, a partir desse dia permaneci com a minha filhota todas as noites, durante todo o internamento. O hospital velho...a cantina horrorosa...nada do “calorzinho” que estávamos habituadas e que ainda assim ajudava a disfarçar as preocupações.
Durante esse internamento fez a 1ª consulta de neuropediatria, que eu aguardei tão ansiosa que quase me saltava o coração do peito...
A médica que a observou..um doce...disse: esta menina vai falar, andar e na escolinha, quando for altura disso logo se vê...vamo-nos preocupar com o que está mais próximo. Terá provavelmente uma microcefalia, que ainda n se verifica, mas irá aparecer e apresenta uma hemianópsia esquerda (redução do campo visual).
Fez também em St Maria consulta de dermatologia, pelo facto de apresentar umas irregularidades subcutâneas nas costas e coxas, que apesar de eu já ter questionado os médicos sobre aquilo, ninguém deu importância e esta neurologita achou estranho tal como eu, e querendo averiguar, pediu a uma equipa da neonatologia para observar...concluiram então e depois confirmado com dermatologia, que se tratava de necrose dos tecido adiposo subcutâneo, resultado do sofrimento neonatal. A boa notícia foi que passaria e que poderia isso ser a causa da PCR aumentada.
Com isto, tivémos alta, uma semana depois, sem nada mais concluído, e regressámos ao hospital de origem numa sexta feira, dia 25 de Fevereiro, num mini autocarro de transporte de doentes adultos. Eu com ela no colo a caminho do Algarve. Poderia ter reclamado desta situação...mas sinceramente só queria voltar e rezei muito a pedir que corresse tudo bem e pudesse finalmente levar a minha princesa para casa.
A alta definitiva foi só no dia a seguir de manhã. Ainda permaneceu durante a noite na neonatologia.
E finalmente fomos para casa no dia 26 de fevereiro de 2005
A partir daí...o tempo foi passando, entre dias de desespero outros de alegria e conquistas, consultas e terapias e ontem a minha menina fez 4 aninhos.
Foram 4 anos, que não parecem ter passado rápido, porque a ansiedade que o tempo passe e nos dê respostas é muito grande.
Posso contudo dizer, que as respostas têm sido senão as melhores, muito perto disso, e muitas vezes temo pela minha conduta em relação à sua educação, porque fico tão feliz com algumas das suas atitudes reveladoras de inteligência, que em vez de a por na linha...deleito-me com elas! :)
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3 comentários:
Sabes, estas tuas últimas frases resumem tudo: Tens um orgulho enorme nessa lutadora. Um dia ainda terás mais ! Beijos , minhas lindas e muitos parabéns.
Minha querida,
sabes que sou uma mulher crente...sempre acreditei e te disse, que tudo ía correr bem com a nossa Mi. Como sabes, a vida não me tem mostrado os melhores caminhos...mas que tenho uma certeza, caminhando pelos mais dificies faz com que quando chegar ao destino, o sabor seja mais doce :) ao ler as tuas palavras, recordei as vossas caras cansadas e tristes que encontrei no hospital Stª Maria, e agora digo que apesar das circunstâncias havia qq coisa q me dizia que era uma fase passageira. Saber ter esperança meio caminho para q as coisas corram bem.Um beijo enorme para essa força da natureza chamada Maria. Eu sempre disse que ela vai ser uma grande mulher...e continou a dizer :)
Oh minha amiga, és uma grande lutadora, uma grande guerreira e a Mi é uma linda menina, muito corajosa e eu sei que tudo irá correr bem, a Mi vai conseguir superar tudo e atingir todos os sonhos dela.
Parabéns pelos 4 anos da Princesa, que se repitam por muito e muito tempo.
Um grande beijinho e desejo-vos tudo de bom.
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